A PREMISSA
Em grandes cidades como São Paulo a especulação imobiliária é um fator muito presente no cotidiano dos cidadãos. Os investimentos privados, aliados ao poder público, potencializam determinadas áreas a fim de obter exorbitantes lucros futuros. Estas operações trazem o mercado imobiliário para o centro das discussões sobre a cidade contemporânea.
Desenvolvido a partir de dois eixos conceituais, Em Exposição, é um vídeo que levanta a discussão sobre o processo de desenvolvimento arquitetônico e, consequentemente, social dos grandes centros urbanos, em especial a cidade de São Paulo. O primeiro eixo versa sobre a “possível falência” do ideal arquitetônico e urbanístico modernista. Tal ideal pregava uma sociedade mais igualitária, e foi alçado pelo poder público brasileiro como veículo de propagação de sua ideologia. O segundo, investiga a influencia do neoliberalismo nas cidades contemporâneas, que atualmente passam a ser apropriadas pela inciativa privada. Essa transferência de poderes é o foco para tentar entender as problemáticas atuais da cidade de São Paulo, ou seja, como os processos de subjetivação de seus cidadãos foram alterados.
Para tanto, o projeto original para a construção do vídeo, Em Exposição, consistia no compartilhamento da autoria do vídeo. Seriam entregues 2 câmeras para diferentes pessoas que trabalham no mercado imobiliário na cidade de São Paulo. A primeira delas seria entregue para um plantonista – profissional contratado por imobiliárias, para ficar locado em casas que estão para vender e alugar, ficando responsável por zelar pelo imóvel e apresenta-lo para possíveis compradores. A segunda e última câmera seria entregue para um empregado de uma demolidora. Estas pessoas ficariam com a câmera durante 15 dias, filmando suas casas e também os seus ambientes de trabalho. A escolha das profissões se deu, pois, cada uma com as suas particularidades leva o profissional a manter uma relação temporal distinta com a casa que trabalha.
O PROCESSO
Durante a pré-produção do vídeo, alguns imprevistos surgiram. Nas conversas com corretores, plantonistas, operadores de guindastes, mestre de obras, pedreiros e outros tantos profissionais envolvidos na especulação imobiliária, uma resposta padrão se repetia: “eu não posso participar do seu projeto, sem a autorização por escrito da empresa que eu presto serviço”. Esta resposta acrescentou outra camada de agenciamento para o vídeo. As negociações com as empresas operadoras da especulação imobiliária (construtoras, incorporadoras, demolidoras e imobiliárias) na cidade de São Paulo, foram se mostrando problemáticas. Após diversas trocas de e-mails e contatos telefônicos, algumas dessas empresas marcavam reuniões para entender um pouco mais do projeto. As reuniões se transformavam em embates, pois diretores de marketing e comunicação, além de me proibirem de gravar qualquer imagem dentro de seus “produtos”, me ameaçavam e me impediam de voltar a conversar com os seus funcionários.
Com todas essas limitações precisei traçar estratégias para construir um novo vídeo. Voltei a campo para realizar novas entrevistas/conversas, e registrá-las em papel. Em posse desse material ensaiei escrever um roteiro de narração, para realizar entrevistas falsas, que seriam sobrepostas a diversas imagens de prédios e casas em processo de demolição. Tal ideia foi deixada de lado, para dar lugar ao vídeo final apresentado
Foram dois meses de muita negociação. Ora com empresas, ora com pessoas, e até mesmo com as minhas frustrações de não conseguir captar as imagens e sons que eu desejava. Em Exposição é dedicado a todos as pessoas entrevistadas, que assim como eu tiveram o seu direito de fala cerceado pelas empresas operadoras da especulação imobiliária na cidade de São Paulo.